sexta-feira, 17 de junho de 2011

Diabetes e o coração

Oi! Como vai você? Então, hoje vou falar sobre as complicações cardíacas da diabetes. Vamos lá.

A aterosclerose é causada pelo depósito de placas, formadas por gordura e tecido fibroso, que obstruem os vasos sanguíneos e podem gerar infartos quando ocorrem em artérias que irrigam o coração, as coronárias(veja a figura abaixo). O colesterol é o grande responsável pela aterosclerose. Esse lipídio é transportado dos tecidos para o sangue através das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), chamado muitas vezes de “mau colesterol”. Os diabéticos tem maior propensão a desenvolver complicações cardiovasculares. Vamos descobrir porque.
Bom, vocês devem estar lembrados do meu último post sobre AGE´s. Eles são os grandes vilões das complicações diabéticas e, como não poderia ser diferente, a arterosclerose está relacionada a eles.

Os AGE´s induzem a formação de radicais livres, dentre os quais os biologicamente mais importantes são os ROS (reactive oxigen species, ou espécies de oxigênio reativo), que aumentam o stress oxidativo. Dessa forma, pode ocorrer a oxidação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), que transportam o colesterol. A LDL oxidada atrai monócitos para o espaço sub-endotelial (espaço entre a membrana basal da célula e a célula do endotélio) e estes diferenciam-se em macrófagos. Ocorre, assim, a captação das LDL pelos macrófagos e o acúmulo de colesterol em seu interior, formando as células espumosas. Os macrófagos contendo o colesterol em seu interior são envolvidos por uma cápsula de tecido fibroso, que visa mantê-la íntegra e emparedada na parede do vaso, impedindo assim que ela obstrua a circulação. Porém, o acúmulo dessas células espumosas desencadeiam reações inflamatórias, que promovem a digestão dessa cápsula e a formação de coágulos. Com a destruição da cápsula, os coágulos são liberados e passam a viajar pela corrente sanguínea, podendo gerar a obstrução de um vaso. As reações inflamatórias são identificadas através de um marcador, uma proteína denominada proteína C reativa (PCR). Quando esta encontra-se em valores acima de 0,3 mg/dL, considera-se que há risco de doenças cardiovasculares.

Em indivíduos diabéticos que apresentem resistência a insulina, há a degradação de ácidos graxos para a produção de energia. Dessa forma, há um aumento de ácidos graxos livres na célula. Esses ácidos graxos são oxidados pela mitocôndria, o que conduz a uma superprodução de espécies de oxigênio, responsáveis por ativar as vias bioquímicas de síntese de AGE´s , do poliol (citada no post do João Pedro sobre retinopatia diabética) e da proteína quinase C. Falarei um pouco sobre a proteína quinase C (PKC) e suas implicações nas complicações cardiovasculares diabéticas.

A proteína quinase C é ativada por diacilgliceróis (DAG´s). A hiperglicemia favorece a formação dos ROS, como foi explicado acima. Esses compostos promovem a ativação da enzima aldose redutase, que converte glicose a sorbitol. O sorbitol é convertido a frutose, o que aumenta a relação NADH/ NAD+, favorecendo a formação de DAG´s, que ativam a proteína quinase C. Os DAG´s podem ser produzidos também por hidrólise de fosfatidil-inositídeos, metabolismo da fosfatidil-colina por fosfolipases (veja a figura abaixo).



A PKC é responsável pela ativação de genes relacionados a síntese de colágeno tipo VI, presente no miocárdio, o que promove um enrijecimento do músculo cardíaco. A PKC é responsável também pela expressão do fator nuclear kB, que, como visto no post sobre AGE´s, ativa genes relacionados a produção de endotelina 1 (substância vasoconstritora), que favorece a obstrução dos vasos sanguíneos, citocinas pró-inflamatórias, como a interleucina-1a (IL-1a), (IL-6) e o fator de necrose tumoral-a (TNF-α), que, como visto, desencadeia o processo inflamatório que poderá culminar na obstrução dos vasos sanguíneos.Além disso, a PKC inibe a produção de óxido nítrico pelo endotélio, o que diminui a capacidade vasodilatadora(veja a relação da PKC com complicações cardiovasculares na figura abaixo).


E será possível evitar que tudo isso aconteça? Uma possível forma consiste no consumo de vitamina E, que além de ser um antioxidante (inibindo o stress oxidativo), evita a formação dos diacilglieróis, que ativam a PKC. A vitamina E está presente em óleos vegetais, peixes, grãos e vegetais folhosos verdes. Além disso, os inibidores da PKC b, por evitarem os efeitos dessa proteína, também desempenham um papel importante contra as complicações cardiovasculares.

Então, essa foi minha mensagem de hoje. Até a próxima galera!

Referências Bibliográficas:
http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/reumato/proteina_reativa_2006_universo.htm
http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/proteina-c-reativa/
http://www.scielo.br/pdf/abem/v52n6/05.pdf
http://www.sbac.org.br/pt/pdfs/rbac/rbac_40_02/05.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302003000600006
http://www.lincx.com.br/cuidando-de-sua-saude/artigos-cientificos/cardiologia/5780-proteina-c-reativa-e-suas-indicacoes-clinicas.html
http://www.scielo.br/pdf/abem/v52n2/21.pdf

2 comentários:

  1. No vosso artigo afirmam que "o colesterol é o grande responsável pela aterosclerose" mas, por mais improvável que isto possa parecer, existe muita ciência que contraria esta hipótese[1]. Em oposição a isto, referem e muito bem, a questão da oxidação das lipoproteínas. O que será mais determinante para a aterosclerose, unicamente níveis de LDL, ou a propensão para a sua degradação, seja por oxidação, inflamação crónica, glicagem ou outro mecanismo qualquer?[2] Esta questão é importante porque é com base na Hipótese Lipídica que se baseiam todas as teorias contra as dietas low-carb na diabetes, que ao contrário das dietas low-fat oficiais não degradam a glicémia a longo prazo[3].

    [1]- http://www.canibaisereis.com/ravnskov/
    [2]- http://bit.ly/jhb2TX
    [3]- http://bit.ly/iR6dmW

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  2. Muito apropriado o comentário acima.
    Tenho encontrado muita contraposição à hipótese lipídica e tenho a mesma dúvida do internauta do comentário anterior.

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