sábado, 4 de junho de 2011

Complicações: a Retinopatia Diabética

Olá pessoal!

Vocês já ouviram que os diabéticos tem 25 vezes mais chances de desenvolver cegueira do que os não diabéticos? Essa postagem trata justamente da causa dessa estatística que é a retinopatia diabética.
A retinopatia diabética é a principal complicação ocular causada pela Diabetes Mellitus, ela é causada pela modificação dos vasos sanguíneos presentes na retina ocular. Entre as modificações encontram-se vazamentos de fluido e crescimento de mais vasos sanguíneos, porém, muito mais frágeis ao longo da região acometida pela doença.

A retinopatia diabética pode ser classificada como:


·Não proliferativa leve: microaneurismas ocorrem nos vasos localizados na retina.

·Não proliferativa moderada: alguns vasos sanguíneos localizados na retina são bloqueados fazendo com que algumas partes dessa região não sejam oxigenas corretamente.

·Não proliferativa severa: mais vasos sanguíneos são bloqueados e as áreas da retina mandam sinais para o corpo iniciar o processo de proliferação de vasos sanguíneos(neovascularização) na retina.

·Proliferativa: os vasos que supostamente irão suprir a necessidade de oxigenação do local começam a crescer e sua fragilidade faz com que sangramentos frequentes contribuam para a perda de visão.

O sangramento desses vasos advém de uma microangiopatia que contribui para o enfraquecimento dos vasos sanguíneos de pequeno calibre, principalmente na retina e rins. A oclusão microvascular ocorre em função do espessamento da membrana basal dos capilares da retina. Isso pode ser explicado pelo post de que o Yuri acabou de fazer: a hiperglicemia prolongada pela diabetes acaba promovendo reações reversíveis entre açúcares e aminoácidos(amino redutor) que dão origem a produtos intermediários da glicosilação; se as altas taxas de glicemia persistirem (perceba que, se as taxas de glicose voltarem ao normal, a reação ocorre no sentido inverso), ocorre a formação de produtos finais da glicosilação (PFGs ou AGEs) por um mecanismo enzimático irreversível. Os AGEs, por sua vez,ligam-se aos receptores presentes no endotélio fazendo com que a permeabilidade dos vasos aumente, ligam-se também à proteínas livres e hemácias causando aumento da matriz extracelular, inativação do oxido nítrico (capazes de causar a vasodilatação diminuindo a pressão dentro dos vasos) e disfunção das hemácias (hemoglobina glicosilada), desregulando o transporte de oxigênio e enfraquecendo os capilares. Vale lembrar também que a hiperglicemia aumenta o volume vascular e isso pode facilitar a hemorragia vítrea.

Outra via metabólica também contribui para o desenvolvimento da patogênese, a via dos polióis. Com o excesso de glicose no tecido retiniano, a glicose é convertida em sorbitol através da aldose redutase. O acúmulo dessa substância dentro das células altera o fluxo osmótico, podendo causar a morte das mesmas e também causa a depleção da mioinositol. Essa substância é importante para a regulação da enzima sódio-potássio ATPase, de forma que o acúmulo de sorbitol acaba prejudicando os pericitos (uma célula do tipo mesenquimal, associada com as parede de pequenos vasos sanguíneos), fazendo com que eles deixem de exercer sua função contrátil e mantenedora da estrutura dos vasos.

Os fatores de risco da retinopatia diabética estendem-se a todas as pessoas acometidas por diabetes, seja ela do tipo 1 ou 2. A complicação esta relacionada diretamente com o tempo de desenvolvimento da doença que a pessoa possui. Em 2 anos de diabetes diagnosticada, a probabilidade de um paciente ser portador de retinopatia diabética é de 2% para diabetes 1 e de 20% para diabetes do tipo 2. Tal discrepância ocorre devido ao fato dos sintomas no diabetes 2 serem mais amenos e, portanto, quando diagnosticada, as chances de do paciente ter iniciado e desenvolvido seu quadro de diabetes sem saber por um período de tempo longo é maior. Outros fatores de risco são:

·Genética: hà 4% de chances a mais quando algum parente próximo apresenta a doença.

·Controle metabólico: como foi visto acima, o controle da glicemia pode fazer com que a glicosilação enzimática seja revertida se esta estiver em processos iniciais e outros fatores agravantes da patogênese podem ser evitados.

·Tabagismo: provoca diminuição do fluxo sanguíneo (levando a neovascularização) e perda do controle da microvascularização.

·Idade: a retinopatia diabética tem rara ocorrência antes da puberdade, e os casos aumentam em frequência e gravidade após os treze anos. Isso ocorre, provavelmente, devido as alterações hormonais dos indivíduos.

A prevenção do avanço do quadro de RD é feita principalmente pelo controle metabólico a fim de evitar a hiperglicemia prolongada. Além disso, também há recomendações para evitar o tabagismo e praticar exercícios físicos. Já o tratamento da doença possui diversas vertentes de estudos. Existem, por exemplo, substâncias capazes de reduzir a angiogênese ocular e o crescimento de células endoteliais: hormônios como somatostatinas (hormônio produzido pelas células delta do pâncreas), que inibem o eixo IGF1, e medicamentos de via oral que inibem a atividade da proteína quinase C, a qual tem entre seus efeitos a iniciação da angiogênese e também da proliferação de células na camada basal do endotélio.



Esses tratamentos acima, entretanto, não se comparam à eficiência demonstrada pelo método da fotocoagulação, que reduz a perda de visão por retinopatia diabética. O vídeo abaixo sintetiza o que acontece nesse método cirúrgico. Além de impedir que os vasos cresçam novamente, o método faz com que as possíveis manchas causadas pelos microaneurismas sumam. Também leva a uma proliferação do epitélio pigmentar com subsequente renovação, acarretando no desaparecimento do edema de retina. É preciso levar em consideração que se os vasos estiverem muito próximos à macula (ponto da retina aonde enxergamos com maior precisão), a cirurgia pode causar danos permanente à visão do paciente.

Se o tratamento a laser não apresentar sucesso e a hemorragia vítrea for persistente, ou se houver descolamento da retina, é necessário que seja realizado um outro processo cirúrgico denominado vitrectomia.

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