sexta-feira, 1 de julho de 2011

Diabetes e o rim

Boa noite galera! Hoje vou falar pela última vez sobre complicações diabéticas. Falarei sobre a nefropatia diabética.

A nefropatia diabética é mais uma complicação causada pelo excesso de açúcar no sangue. E, mais uma vez, adivinhem quem são os grandes vilões. Você pensou em AGE´s? Então, você está certo. Eles mais uma vez contribuem para o desenvolvimento dos problemas na filtração do sangue realizada pelos rins.Vamos incialmente fazer uma revisão sobre os rins.

O rim é um órgão localizado na parede posterior do abdome, responsável pela filtração do sangue. A unidade funcional dos rins é chamada de néfron, que, por sua vez, é constituído pelo glomérulo renal e pelos túbulos renais (túbulo contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e túbulo coletor). O glomérulo renal, envolvido pela cápsula de Bowman, é um enovelado de vasos sanguíneos. É nessa estrutura que ocorre a filtração do sangue.Existem células aderidas às paredes dos vasos sanguíneos glomerulares, que auxiliam na sua sustentação. Essas células denominam-se células mesangiais e são semelhantes às células musculares lisas, possuindo funções contráteis e fagocitárias. Nos túbulos renais, ocorre a reabsorção de água e outras substâncias que serão úteis ao organismo, presentes nesse filtrado de sangue. (Veja a imagem abaixo, que mostra a estrutura do néfron.)

Uma das formas de detectar hiperglicemia é por meio da presença de glicose na urina. Isso não é comum, uma vez que esse açúcar é quase todo reabsorvido pelo túbulo contorcido proximal do rim. Porém, quando a glicemia está muito elevada (160 a 180 mg/dL), parte da glicose que deveria ser absorvida acaba sendo excretada na urina. Essa condição denomina-se glicosúria. A hiperglicemia acarreta um aumento no trabalho dos rins, na tentativa de fazer a glicose ser reabsorvida. Por isso os rins em pessoas diabéticas são maiores.

Vamos adentrar agora ao mecanismo pelo qual os AGE´s interferem na função do rim. Os AGE´s, ao ligarem-se ao seu receptor (RAGE), que estão presentes nas células mesangiais, aumentam a liberação do fator de crescimento beta (TGF- β), que estimula a síntese de componentes da matriz de colágeno, que é um dos fatores que levam ao espessamento da membrana basal à qual estão fixadas as células mesangiais. O espessamento do leito mesangial diminui a área de filtração dos glomérulos, o que acarreta uma maior passagem de proteínas plasmáticas para os túbulos renais. Quando a concentração dessas proteínas nos túbulos renais é muito elevada, não é possível reabsorvê-las completamente. Então, parte dessas proteínas estará presente na urina, um quadro conhecido como proteinúria. Como uma das primeiras proteínas a ser filtrada é a albumina, a microalbuminúria elevada, de 30 a 300 mg/ dia é um dos marcadores de um estágio inicial da nefropatia diabética. A proteinúria pode ser percebida, durante a sua evolução, no aspecto espumoso da urina. Em um período de 10 a 15 anos, se não tratada, a proteinúria pode levar a insuficiência renal completa. A figura abaixo representa o aumento no leito mesangial (seta maior) e o espessamento na parede dos vasos glomerulares (seta menor), que pode levar à destruição dos glomérulos.


Os AGE´s não são os únicos a interferirem na nefropatia diabética. O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) também interfere na função renal. No blog de hipertensão, vocês poderão ter mais informações sobre esse sistema: http://bioquimicadahipertensao2011.blogspot.com/. Resumidamente, o SRAA é ativado em casos de baixa pressão arterial, na tentativa de aumentá-la. A renina é secretada pelo rim e, no fígado, catalisa a transformação do angiotensinogênio em angiotensina 1. A angiotensina 1 é covertida, nos pulmões, em angiotensina 2, através de uma enzima chamada ECA (enzima conversora de angiotensina). A angiotensina 2 provoca a vasoconstrição, por meio da deposição de matriz extracelular de colágeno (devido ao TGF), o que aumenta o leito mesangial. Os efeitos disso já foram expressos no parágrafo acima. É importante perceber que quanto maior for a pressão arterial, maior será o “trabalho” que o rim vai ter, o que facilita a ocorrência da insuficiência renal. Sendo assim, hipertensos apresentam maior propensão a desenvolver insuficiência renal, associada a nefropatia diabética.

A diminuição da área de filtração dos néfrons é um dos principais aspectos que marcam o início da insuficiência renal. A insuficiência renal pode levar ao aumento de resíduos metabólicos no sangue,como a uréia e a creatina. Além disso, a lesão renal pode levar a anemia, uma vez que os rins são responsáveis também pela produção de eritropoietina, um hormônio que estimula a medula óssea a produzir células vermelhas do sangue.

Como tratamento para a nefropatia diabética, podem ser utilizados inibidores da ECA (impedindo a formação da angiotensina 2) e bloqueadores dos receptores da angiotensina ( BRA´s), ambos utilizados também no tratamento da hipertensão arterial. Também são utilizados inibidores da proteína quinase C, que, como explicado no último post, está envolvida nos mecanismos que conduzem à vasoconstrição.

Esse foi meu último post galera. Então, espero que tenham gostado. Obrigado pela atenção.

Referências bibliográficas:

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