quarta-feira, 29 de junho de 2011

Tratamentos - Diabetes tipo II



Oi gente!

Agora, vamos mostrar os tratamentos possíveis para a Diabetes Mellitus tipo II.

Com certeza, o diabético tipo II deve manter uma boa alimentação e a prática de exercícios físicos. A insulinoterapia também pode ser aplicada no tratamento, da mesma forma que foi explanado em tratamentos de diabetes tipo I. Ela passa a ser utilizada, normalmente, depois de alguns anos da doença. Normalmente, para haver o controle da doença mantém-se o uso de antidiabéticos orais.

O que são antidiabéticos orais?

Antidiabéticos orais são medicamentos utilizados para obter a diminuição da resistência a insulina, ou estimular a secreção de insulina, ou diminuir a absorção de glicose pelo intestino.

O esquema abaixo mostra simplificadamente como os antidiabéticos orais devem ser ministrados no desenvolver da doença.


Entre os medicamentos que reduzem a resistência á insulina, temos Metformina (comercializada como Glifage, Dimefor, Glucoformin, Glucophage) e Tiazolidinedionas ou Glitazonas.

A Metformina melhora a ação da insulina no fígado, diminuindo a produção hepática da glicose em 10 a 30% e, no músculo, aumentando a captação de glicose em 15 a 40%. No adipócito, a metformina inibe a quebra de lipídeos e a disponibilidade de ácidos graxos livres. Acredita-se que esta droga aumenta o número e melhora a afinidade dos receptores de insulina, tanto no adipócito, quanto no músculo.

As Tiazolidinedionas agem aumentando e sensibilizando a ação da insulina no fígado, músculos e adipócitos, diminuindo a resistência periférica. Elas ativam os receptores nucleares intracelulares (PPAR-g, peroxisome proliferator activated receptor) que regulam a expressão de genes que afetam o metabolismo glicídico e lipídico, responsáveis pela captação de glicose mediada por insulina nos tecidos periféricos e pela diferenciação de pré-adipócitos em adipócitos, entre outros efeitos. As tiazolidinedionas aumentam a expressão dos transportadores de glicose (GLUT4), da lipoproteína lipase e reduzem a expressão da leptina e do fator de necrose tumoral (TNF-alfa).

Entre os medicamentos que induzem a secreção de insulina, temos as Sulfolinuréias e as Glinidas. Ambas agem nas células beta do pâncreas, inibindo os canais de KATP, despolarizando a célula beta pancreática e estimulando o influxo de Ca2+ e a secreção de insulina. Porém as glinidas possuem ação mais rápida e de menor duração.

E, para finalizar, entre os medicamentos que diminuem a absorção de glicose no intestino, temos a Acarbose, que age como antagonista enzimático da amilase e sucrase e diminue a absorção intestinal da glicose. Estas medicações não interferem na secreção de insulina, e diminuem a glicemia de jejum e a hiperglicemia pós-prandial (nível alto de glicose após a refeição).



A indicação da insulina no tratamento da diabetes tipo II reserva-se para diabéticos sintomáticos, com hiperglicemia severa, com cetonemia ou cetonúria, mesmo recém-diagnosticados, ou para diabéticos que não respondam ao tratamento com dieta, exercício e anti-diabéticos orais. Os esquemas de administração de insulina são múltiplos. Alguns estudos sugerem que o uso de insulina de ação intermediária ao deitar associada a anti-diabético oral durante o dia é uma boa opção.

Bom, pessoal, essa foi uma explanação simples sobre os medicamentos indicados para o tratamento da diabetes tipo II. Se possível, assistam ao seminário do grupo diabetes e poderão ver uma explicação mais aprofundada. :)

Espero que tenham gostado!

Referências Bibliográficas:






terça-feira, 28 de junho de 2011

Canela contra diabetes?



Olá caros leitores! Em função do muito merecido feriado prolongado, nosso blog passou alguns dias abandonado... Agora, porém, voltamos a todo vapor com mais informações quentíssimas sobre diabetes. Hoje, especificamente, vou falar de um estudo que testava uma suposta propriedade da canela que a tornaria útil no combate à diabetes. Confira.

Efeito redutor da canela sobre a hemoglobina glicada e a pressão arterial em um grupo multi-étnico de pacientes com diabetes tipo 2 no Reino Unido: um ensaio clínico duplo-cego, randomizado, controlado com placebo.

Resumo do estudo

Conforme afirmado no título, este ensaio clínico relativamente pequeno usou um desenho duplo-cego, randomizado, controlado com placebo, para testar os efeitos da ingestão de 2g de canela sobre a A1C (hemoglobina glicada), a pressão arterial e os perfis lipídicos. De 3 centros no Reino Unido, 58 pacientes com diabetes tipo 2 e A1C > 7%, e tomando medicação antihiperglicemiante oral foram escolhidos aleatoriamente para receber canela (n = 30) ou placebo (n = 28) por 12 semanas.

A1C, glucose em jejum, lipoproteínas de alta densidade (HDLs), lipoproteínas de baixa densidade (LDLs), triglicerídeos, bem como peso corporal, índice de massa corporal e circunferência da cintura foram medidos ao tempo da adesão e novamente 12 semanas após a intervenção.

Os pacientes tinham 55 anos e a maioria (57%) era de asiáticos/britânico-asiáticos (indianos/paquiataneses/bangladeshianos), enquanto 26% eram negros. Apesar do fato de que todos estavam recebendo antihiperglicemiante orais, 76% estavam em monoterapia com metformina, somente 34% estavam tomando antihipertensivos, e 33% estavam tomando estatinas.

Na base de referência, os grupos não diferiram em nenhuma das medidas de interesse clínico, com A1C média de aproximadamente 8,4% e pressão arterial média de aproximadamente 133/86 mmHg. Entretanto, após 12 semanas, a A1C diminuiu em 0,36% no grupo tratado com canela versus um aumento de 0,12% no grupo que recebeu placebo (P = 0,002).

Alteraações na pressão arterial sistólica (-4 mmHg vs +1 mmHg, P < 0,001) e diastólica (-4 mmHg vs -1 mmHg, P < 0,001) também favoreceram o grupo que usou canela. Também foram observadas diferenças não signicativas no peso corporal (-2.9% vs -0.5%, P = 0,183) e na circunferência da cintura (-2.4 cm vs -0.6 cm, P = 0,354).

Discussão

Outro estudo anterior já descobriu que a canela reduz a glucose em jejum, entretanto uma meta-análise de 5 ensaios não encontrou nenhuma redução na A1C com a ingestão de canela. Os aparentes benefícios sobre a A1C e a pressão arterial relatados no presente estudo foram relativamente pequenos, o ensaio foi de curta duração e a população do estudo também foi algo atípica. Em todo caso, ainda deve ser averiguado se esses resultados podem ser atingidos em uma amostra mais representative e sustentados por um período mais longo.

Se houver um limite quanto à quantidade de canela que um indivíduo esteja disposto a tomar, os modestos benefícios, vistos neste estudo, não contribuem para aumentá-lo. Entretanto, não parece haver nenhum prejuízo em um paciente consumir canela, desde que isso não o impeça de usar terapias mais potentes e de eficácia comprovada.

Conclusão

Conclui-se, então, que a ingestão de 2g de canela por 12 semanas reduz significativamente a HbA1c, a PAS e a PAD entre pacientes com diabetes tipo 2 não controlada. A suplementação dietética com canela poderia ser considerada como uma opção adicional a fim de regular os níveis de glicose sanguínea e de pressão arterial, juntamente com medicações convencionais para tratar a diabetes mellitus tipo 2.


Autor: Gregory A. Nichols


Referência:
http://www.medcenter.com/Medscape/content.aspx?bpid=88&id=28652&__taxonomyid=3431

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Tratamentos - Diabetes tipo I

Oi, galera!

Estamos chegando ao fim de nossas postagens. :'(

Por isso, depois de analisar tantos aspectos de uma das doenças mais comuns no nosso país, a Diabetes, temos que mostrar os possíveis tratamentos para controlar esse mal.

Como já sabemos, temos dois tipos de Diabetes causados por causas distintas, e, portanto, os tratamentos para as mesmas serão diferentes. Por isso, no post de hoje, vamos falar sobre os tratamentos da diabetes tipo I.

O tratamento da diabetes tipo I consiste basicamente em:
  • terapia médica nutricional (dieta);
  • exercícios físicos e ;
  • insulinoterapia.

Vamos nos deter na insulinoterapia. No post de Diabetes Mellitus tipo I, você viu que essa disfunção é causada porque o organismo não secreta insulina. Portanto, é necessária a reposição desse hormônio, a insulinoterapia. Essa insulina será absorvida da mesma forma que em um organismo saudável, como já foi descrito em Absorção da Insulina.

Como já foi dito anteriormente, a insulina administrada aos diabéticos, que era de origem animal, hoje foi substituída pela insulina produzida por meio do DNA recombinante. E, assim, por meio da engenharia molecular, sugiram tipos de insulina com curta ou longa ação.

Essa velocidade da ação do hormônio dependerá da composição do tampão, da estrutura proteica e da via de administração do hormônio. Dessa forma, temos insulinas de ações (ultra)rápida, intermediária e (ultra)lenta.
  • A insulina de ação rápida ou ultra-rápida são geralmente aplicadas nas vias endovenosa, muscular e subcutânea, e são utilizadas, normalmente, antes das refeições para o melhor controle dos picos glicêmicos. Podem ser de origem humana ou análogos, como a insulina lispro e a insulina aspart.
  • A insulina de ação intermediária funciona assim devido a adição de protamina e zinco, ou apenas zinco, no tampão da solução de insulina, e, desse modo, quando aplicada no subcutâneo, forma cristais tornando a sua liberação mais lenta. Deve ser aplicada 2 vezes ao dia, uma 20 minutos antes da primeira refeição e outra antes do paciente se deitar.
  • A insulina de ação lenta ou ultra-lenta é produzida da mesma forma que a de ação intermediária, porém a adição de protamina e zinco é maior, por isso, o cristal formado é maior também, prolongando a ação do hormônio. Há também um análogo, a insulina glargina, que, em pH subcutâneo, precipita, sendo sua absorção bem mais lenta. Esse tipo de insulina requer apenas 1 aplicação ao dia, sendo utilizada juntamente com a insulina de ação rápida antes das refeições.

Existem estudos para produzir um novo tipo de insulina: a insulina inalatória. Já é comprovado que se respirarmos insulina, conseguimos absorvê-la nos alvéolos. Ainda é necessário melhorar a técnica, mas já podemos considerar um grande avanço, e, se concretizada, uma grande melhora na qualidade de vida dos diabéticos tipo I.

O principal efeito colateral da insulinoterapia é a hipoglicemia (curioso, não?). Isso acontece pela não diminuição do uso de glicose nas células, não liberação de AGL pelas células do tecido adiposo e consequente supressão da secreção de glucagon. A hipoglicemia é perigosa porque é silenciosa. Em uma pessoa normal, se manifesta, geralmente, quando o nível glicêmico atinge 55mg/dL. Porém, quando sua frequência é muito alta, esse nível diminui e se torna altamente danosa ao sistema nervoso central (SNC), podendo levar a convulsões, coma e morte.


Sintomas da Hipoglicemia


Um tratamento mais eficaz seria o transplante de pâncreas ou de células beta do pâncreas, porém, no caso do transplante de pâncreas é necessário passar por uma imunossupressão prolongada , sendo, assim, indicado apenas em fase tardia de microangiopatia. Já no caso das células beta, a técnica ainda precisa ser aperfeiçoada.

Espero que tenham gostado!


Referências bibliográficas:



segunda-feira, 20 de junho de 2011

Diabetes e vitamina D

Olá pessoal!

Essa postagem vai explicar a importância de quantidades normais de vitamina D no organismo para o controle de alguns problemas que podem ser exibidos por portadores da diabetes mellitus. Entretanto, o que é vitamina D?


As pessoas tendem a relacionar a vitamina D (colecalciferol) exclusivamente com a formação óssea, processo que ocorre por meio da manutenção da homeostase do cálcio a partir da interação com glândulas e órgãos, entre eles as paratireoides, o intestino e os rins. Isso faz com que a falta desse hormônio esteroide seja vista relacionada somente com o raquitismo e a osteoporose, quando ela na verdade engloba vários outros aspectos. Através da interação da vitamina D com seus receptores (RVD), ocorrem processos como a proliferação e diferenciação celular, além da imunomodulação do corpo.


A obtenção de vitamina D pelo organismo ocorre principalmente pela formação endógena nos tecidos cutâneos após a exposição a radiação ultravioleta. O consumo de alimentos ricos no nutriente (alimentos fortificados, como leite e cereais, ou fontes naturais, como óleo de fígado de peixe, peixes gordurosos, cogumelos e ovos) contribui com apenas 20% das necessidades do corpo, entretanto é ele fundamental para pessoas idosas por exemplo. Isso devido a fatores como baixa exposição solar, diminuição da eficiência da síntese cutânea, redução da absorção intestinal e também  redução da atividade de uma enzima chamada 1α -hidroxilase renal. Ela é responsável pela ativação da vitamina D no organismo, transformando 25-hidroxivitamina D em 1,25 dihidroxivitamina D. (Vitamina D ao lado).

Foi dito que a vitamina D tem função na imunomodulação. E o que é a imunomodulação? É o ajuste da resposta imune seja este de maneira a potencializar, suprimir ou até induzir a tolerância desse processo. Sendo assim, no caso da diabetes tipo 1, que tem com causa uma resposta autoimune às ilhotas de Langerhans, as quais produzem a insulina em suas células beta, encontrou-se na vitamina D um agente fundamental para a redução dessa resposta através da inibição de citoquinas IL-12, que estimulariam as células dendríticas do corpo a expor antígenos para células T helper 1. A vitamina D em sua forma ativa (1,25 dihidroxivitamina D) também inibe a maturação dessas células dendríticas e interfere na transcrição do gene de interferon gama (proteína glicosilada que está envolvida no controle de proliferação, diferenciação e resposta das células B e T). A importância da vitamina D advinda dessas regulações no sistema imune fez com que o centro EURODIAB coletasse dados que permitiram a consideração da suplementação desse hormônio como um fator de proteção contra a diabetes mellitus tipo 1.


Diversos estudos estão comprovando a eficácia da vitamina D no combate à diabetes tipo 1. Entre eles existem testes com camundongos em que carência desse hormônio causou a aceleração do desenvolvimento do problema e o tratamento com suplementação resultou na prevenção da doença. Um outro estudo finlandês que teve acompanhamento de 30 anos comprovou a redução da incidência de DM1 em crianças que receberam suplementação de 1,25 dihidroxivitamina D.


Além de atuar na imunomodulação, a vitamina D também apresentou utilidade contra problemas advindos principalmente dos portadores da diabetes mellitus tipo 2. A vitamina D não atua na redução da resistência à insulina por parte do organismo, mas protege os pacientes diabéticos de doenças cardiovasculares como a aterosclerose, já explicada pelo nosso digníssimo integrante Yuri na postagem: “Diabetes e o coração”.

O que acontece é o seguinte: estudos antigos já indicavam que a presença de vitamina D reduzia a taxa de expressão de doenças cardíacas nas pessoas, mas atualmente esse dado foi justificado por um estudo em que o sangue de 76 pessoas obesas, com 55 anos (média), hipertensão, diabetes tipo 2 e níveis baixos de vitamina D foi coletado e comparado com o sangue de 15 pessoas com níveis normais de vitamina D e outras 45 com pressão arterial normal. Dessas amostras de sangue foram cultivados macófagos que depois foram expostos à LDL. O resultado foi que os macrófagos dos pacientes diabéticos foram capazes de absorver melhor o colesterol em excesso quando estes não dispunham de vitamina D em um nível normal. E, como já foi explicado anteriormente no blog, a absorção em excesso de colesterol pelos macrófagos acaba transformando-os em macrófagos espumosos (foam cells) e dão início à formação de placas entre o endotélio e a lâmina basal dos vasos sanguíneos.

Até mais!

Referências:

A saúde de Dilma Rousseff

Olá, leitores!

Hoje eu vou cumprir o dever passado pelo nosso professor e falar um pouco sobre a saúde de nossa presidenta, Dilma Rousseff. Irei me basear numa reportagem publicada na revista Época do dia 30 de maio de 2011, nº680.

Dilma apresenta tireoidite de Hashimoto, diabetes mellitus tipo 2, sobrepeso e hipertensão. Além disso há um caso passado de câncer, o qual pode ter afetado seu sistema imune, por exemplo. A reportagem cita os 28 remédios que a Presidenta já usou e mostra mais detalhadamente seu estado de saúde. Neste post, porém, irei me concentrar na diabetes tipo 2 e no medicamente utilizado para controlar a doença.

Como já foi dito no blog, a diabetes tipo 2 é causada pela resistência aos efeitos da insulina. Diabéticos do tipo 2 possuem maior tendência a desenvolver obesidade, hipertensão, alto colesterol e problemas cardiovasculares. Dilma apresenta pressão alta, está com sobrepeso e já teve trombose na veia cava. Tais fatores acabam se confundindo, ao mesmo tempo podendo atuar como fatores de risco para o desenvolvimento e a evolução do diabetes mellitus ou constituindo consequências da síndrome metabólica.

Para tratar a doença, Dilma toma metformina, uma fármaco mundialmente usado para o tratamento de diabetes tipo 2, principalmente em pacientes que também sofrem de obesidade. O mecanismo de ação da metformina permanece desconhecido. Desconfia-se que o medicamento influencie na atuação da enzima AMPK (quinase ativada por AMP). A ativação da AMPK determina ampla variedade de efeitos fisiológicos, incluindo o aumento da captação de glicose pelos músculos esqueléticos e aumento do catabolismo de lipídios. A AMPK desliga vias metabólicas que consomem ATP (vias anabólicas de síntese de ácidos graxos e colesterol, por exemplo), e estimula vias metabólicas que produzem ATP (vias catabólicas de oxidação de glicose e de ácidos graxos). No fígado, a AMPK atua diminuindo a síntese de lipídios e estimulando a queima de gorduras, além de bloquear a produção hepática da glicose (gluconeogênese); na musculatura esquelética, estimula a captação de glicose, aumentando a translocação do transportador de glicose GLUT4 e aumentando a sensibilidade à insulina. Por fim, a enzima também atua nas funções hipotâlimicas, alterando noções de fome e saciedade.

Tais efeitos demonstram como o controle metabólico dessa enzima pode ser benéfico para o tratamento da diabetes tipo 2, visto que ela, além de diminuir a glicemia do sangue, também afeta as taxas de colesterol e triglicérides, podendo também combater a obesidade, dislipidemia (colesterol alto) e até mesmo hipertensão.

Referência:
http://www.scielo.br/pdf/abem/v52n1/a17v52n1.pdf

sábado, 18 de junho de 2011

Chá preto pode reduzir a glicemia

Olá! Estava navegando pela internet, preparando nosso seminário de biobio, quando encontrei uma reportagem muito interessante e diretamente relacionada ao nosso blog. Por isso resolvi compartilhar com vocês. A reportagem tratava dos benefícios do chá preto para pacientes diabéticos e pré-diabéticos.


Segundo o autor do artigo, Dr. Daniel J. DeNoon, o chá preto contém uma substância que mimetiza os fármacos acarbose e miglitol, utilizados no diabetes tipo 2. Ele contém uma quantidade da substância (um composto polissacarídeo) superior ao chá verde ou oolong, relatam Haixia Chen e colaboradores da Universidade Tianjin, na China. O banchá tem sido utilizado como um tratamento para diabetes na China e no Japão. É sabido que polissacarídeos de chás reduzem a glicemia.

Agora Chen e colaboradores mostram que os polissacarídeos de chás inibem uma enzima denominada alfa-glicosidase, que transforma o amido em glicose. Os medicamentos antidiabéticos acarbose e miglitol agem justamente através da inibição desta enzima.

"Muitos esforços foram realizados na busca por hipoglicemiantes eficazes oriundos de substâncias naturais", disse Chen em um comunicado à imprensa. "Existe uma possibilidade do uso do polissacarídeo do chá preto no controle do diabetes." Não está claro, porém, se simplesmente beber o chá preto ajudaria. A equipe de Chen utilizou métodos químicos de extração - não infusão simples - para extrair os polissacarídeos do chá que eles adquiriram em mercados locais.

Chen, H., Journal of Food Science, publicado online em junho de 2009.


Referências:



sexta-feira, 17 de junho de 2011

Diabetes e o coração

Oi! Como vai você? Então, hoje vou falar sobre as complicações cardíacas da diabetes. Vamos lá.

A aterosclerose é causada pelo depósito de placas, formadas por gordura e tecido fibroso, que obstruem os vasos sanguíneos e podem gerar infartos quando ocorrem em artérias que irrigam o coração, as coronárias(veja a figura abaixo). O colesterol é o grande responsável pela aterosclerose. Esse lipídio é transportado dos tecidos para o sangue através das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), chamado muitas vezes de “mau colesterol”. Os diabéticos tem maior propensão a desenvolver complicações cardiovasculares. Vamos descobrir porque.
Bom, vocês devem estar lembrados do meu último post sobre AGE´s. Eles são os grandes vilões das complicações diabéticas e, como não poderia ser diferente, a arterosclerose está relacionada a eles.

Os AGE´s induzem a formação de radicais livres, dentre os quais os biologicamente mais importantes são os ROS (reactive oxigen species, ou espécies de oxigênio reativo), que aumentam o stress oxidativo. Dessa forma, pode ocorrer a oxidação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), que transportam o colesterol. A LDL oxidada atrai monócitos para o espaço sub-endotelial (espaço entre a membrana basal da célula e a célula do endotélio) e estes diferenciam-se em macrófagos. Ocorre, assim, a captação das LDL pelos macrófagos e o acúmulo de colesterol em seu interior, formando as células espumosas. Os macrófagos contendo o colesterol em seu interior são envolvidos por uma cápsula de tecido fibroso, que visa mantê-la íntegra e emparedada na parede do vaso, impedindo assim que ela obstrua a circulação. Porém, o acúmulo dessas células espumosas desencadeiam reações inflamatórias, que promovem a digestão dessa cápsula e a formação de coágulos. Com a destruição da cápsula, os coágulos são liberados e passam a viajar pela corrente sanguínea, podendo gerar a obstrução de um vaso. As reações inflamatórias são identificadas através de um marcador, uma proteína denominada proteína C reativa (PCR). Quando esta encontra-se em valores acima de 0,3 mg/dL, considera-se que há risco de doenças cardiovasculares.

Em indivíduos diabéticos que apresentem resistência a insulina, há a degradação de ácidos graxos para a produção de energia. Dessa forma, há um aumento de ácidos graxos livres na célula. Esses ácidos graxos são oxidados pela mitocôndria, o que conduz a uma superprodução de espécies de oxigênio, responsáveis por ativar as vias bioquímicas de síntese de AGE´s , do poliol (citada no post do João Pedro sobre retinopatia diabética) e da proteína quinase C. Falarei um pouco sobre a proteína quinase C (PKC) e suas implicações nas complicações cardiovasculares diabéticas.

A proteína quinase C é ativada por diacilgliceróis (DAG´s). A hiperglicemia favorece a formação dos ROS, como foi explicado acima. Esses compostos promovem a ativação da enzima aldose redutase, que converte glicose a sorbitol. O sorbitol é convertido a frutose, o que aumenta a relação NADH/ NAD+, favorecendo a formação de DAG´s, que ativam a proteína quinase C. Os DAG´s podem ser produzidos também por hidrólise de fosfatidil-inositídeos, metabolismo da fosfatidil-colina por fosfolipases (veja a figura abaixo).



A PKC é responsável pela ativação de genes relacionados a síntese de colágeno tipo VI, presente no miocárdio, o que promove um enrijecimento do músculo cardíaco. A PKC é responsável também pela expressão do fator nuclear kB, que, como visto no post sobre AGE´s, ativa genes relacionados a produção de endotelina 1 (substância vasoconstritora), que favorece a obstrução dos vasos sanguíneos, citocinas pró-inflamatórias, como a interleucina-1a (IL-1a), (IL-6) e o fator de necrose tumoral-a (TNF-α), que, como visto, desencadeia o processo inflamatório que poderá culminar na obstrução dos vasos sanguíneos.Além disso, a PKC inibe a produção de óxido nítrico pelo endotélio, o que diminui a capacidade vasodilatadora(veja a relação da PKC com complicações cardiovasculares na figura abaixo).


E será possível evitar que tudo isso aconteça? Uma possível forma consiste no consumo de vitamina E, que além de ser um antioxidante (inibindo o stress oxidativo), evita a formação dos diacilglieróis, que ativam a PKC. A vitamina E está presente em óleos vegetais, peixes, grãos e vegetais folhosos verdes. Além disso, os inibidores da PKC b, por evitarem os efeitos dessa proteína, também desempenham um papel importante contra as complicações cardiovasculares.

Então, essa foi minha mensagem de hoje. Até a próxima galera!

Referências Bibliográficas:
http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/reumato/proteina_reativa_2006_universo.htm
http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/proteina-c-reativa/
http://www.scielo.br/pdf/abem/v52n6/05.pdf
http://www.sbac.org.br/pt/pdfs/rbac/rbac_40_02/05.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302003000600006
http://www.lincx.com.br/cuidando-de-sua-saude/artigos-cientificos/cardiologia/5780-proteina-c-reativa-e-suas-indicacoes-clinicas.html
http://www.scielo.br/pdf/abem/v52n2/21.pdf

domingo, 12 de junho de 2011

Sobre o artigo: Estudo sobre os efeitos do consumo de frutose em humanos

Olá galera! Hoje vou fazer um post um pouquinho diferente, baseado em um artigo científico, publicado em maio de 2009, que investigou os efeitos do consumo de frutose, como substituinte da glucose, em humanos. A idéia é mostrar os resultados que o estudo obteve, sem esquecer de relacionar os resultados obtidos com o tema do nosso blog, a bioquímica do diabetes. Vamos lá?

Como foi realizado o estudo?

O estudo foi realizado em três etapas. Inicialmente, um grupo de pessoas, obesas ou acima do peso, foi submetido, durante duas semanas, a uma dieta energeticamente balanceada, sendo 55% de seu valor calórico diário proveniente de carboidratos complexos. Nessa primeira parte os indivíduos residiram no hospital/centro de pesquisa, e o objetivo era igualar as condições nutricionais dos mesmos. Em seguida, os mesmos indivíduos foram separados em dois grupos, de forma que um deles passou 8 semanas consumindo uma bebida preparada pelo hospital, adoçada com glucose, e o outro grupo uma bebida semelhante, porém adoçada com frutose. Essas bebidas correspondiam a 25% das necessidades diárias de cada paciente, e associada a elas cada paciente comia o que desejasse, à vontade. Essa segunda fase os indivíduos passaram em suas residências, tendo visitado o hospital apenas uma vez para realizar alguns exames. Por fim, os pacientes voltaram para o hospital para mais duas semanas de internação e para as avaliações finais. Continuaram consumindo as bebidas nas mesmas quantidades, porém agora associadas a uma dieta regulada novamente.

Quais os resultados observados?

Apesar de ambos os grupos haverem apresentado ganhos de peso similares, outros parâmetros se encontravam muito diversos. Entre eles: a quantidade de volume adiposo visceral estava significativamente aumentado apenas no grupo consumidor de frutose, assim como a taxa de lipogênese hepática (produção de gordura a partir da ingestão de carboidratos) e os valores de colesterol e triglicérides sanguíneos, entre outras variações no metabolismo lipídico. Além disso, e agora falando de dados mais relacionados ao tema do nosso blog, as concentrações plasmáticas de glucose sanguínea e insulina aumentaram, enquanto que a sensibilidade à insulina e a tolerância à glucose diminuíram, tudo isso durante a ingestão de frutose, mas não de glucose. Os dados detalhados estão na tabela abaixo, retirada do artigo.


Discussão

Quais são, então, as diferenças provocadas no metabolismo pela ingestão prolongada de frutose, em relação à de glucose, responsáveis por tais resultados? O artigo explica que o metabolismo da frutose, em contraste ao metabolismo da glucose, é independente da regulação da fosfofrutose quinase; sendo assim, a absorção da frutose pelo fígado e seu metabolismo como substrato da lipogênese não são limitados pelo estado de energia (ATP citosólico e níveis de citrato). Além disso, a frutose pode ativar a proteína ligante do elemento regulatório de esteróis 1, de forma independente da insulina, proteína esta que ativa genes envolvidos na lipogênese.
O artigo propõe que o aumento do volume hepático de lipídios, resultante da lipogênese induzida por frutose, leva à resistência hepática à insulina, possivelmente pelo aumento dos níveis de diacilglicerol. O DAG é um ativador conhecido da enzima "novel" PKC (proteína quinase C), e aumentos de ambos diacilglicerol e atividade da "novel" PKC estão associados à resistência à insulina induzida por lipídios.

A frutose e a saúde pública

Observando os resultados do estudo, conclui-se que o elevado consumo de frutose, açúcar presente em diversas bebidas e refeições industrializadas, por exemplo, pode trazer sérios danos à saúde, tanto individual quanto de uma sociedade. Nos Estados Unidos, por exemplo, é bastante comum encontrar bebidas e alimentos adoçados com sucrose (50% glucose e 50% frutose) ou HFCS (high-fructose corn syrup), geralmente constituído de 45-58% de glucose 42-55% de frutose, e a verdade é que não se sabe ao certo quais os limites saudáveis de ingestão desses produtos. Os altos níveis de obesidade entre a população de muitos países, onde os alimentos industrializados dominam, podem estar relacionados ao consumo elevado de frutose.

Com a diabetes não é diferente. Se em um estudo que durou apenas 10 semanas indivíduos que consumiram altas quantidades (25% das necessidades diárias) de frutose tiveram sua glicemia e insulinemia elevadas, assim como a tolerância à glucose e a sensibilidade à insulina diminuídas, que dirá de uma ingestão prolongada, não raro durante anos, a taxas semelhantes ou mesmo um pouco menores (acredita-se que a média de consumo de um cidadão americano é de 15.8% de suas necessidades energéticas)? A verdade é que uma dieta dessa natureza constitui inegável fator de risco para o desenvolvimento de diabetes tipo 2, doença de alto grau de morbidade e mortalidade em todo o mundo.

Para ler o artigo original, acesse o link: http://www.jci.org/articles/view/37385/pdf

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Epigenética e a diabetes

Oi gente!

Vocês sabem o que é epigenética?

Epigenética é o estudo do modo pelo qual o meio externo influencia na atividade genética e é, inclusive, alvo de muitas pesquisas científicas da atualidade. Estudos mostram que o meio pode influenciar no comportamento genético de uma pessoa e, posteriormente, de seus descendentes.

Já foi comprovado, inclusive, que o comportamento dos pais durante a vida, de alguma forma, pode gerar tendência a doenças nos filhos, mostrando que o meio pode alterar a forma de se expressar do genoma. Por exemplo, mães que presenciaram o terrível 11 de setembro estão gerando filhos mais estressados, e filhos de pais fumantes têm uma maior chance de desenvolver obesidade.

Assim, você pode perceber que epigenética é um tema muito interessante e vale a pena ser estudado. Mas, aqui, vamos relacioná-la com a diabetes mellitus tipo 2.

Epigenética e diabetes

Sabemos que todas as células do nosso organismo possuem o mesmo código genético. Mas como que as células beta do pâncreas exercem uma função e as células da retina exercem outra completamente distinta?

Diante disso, é fácil inferir a existência de um mecanismo regulador independente do DNA, que diz, por exemplo, às células betas do pâncreas para produzirem insulina e as da retina não. As células alcançam a sua necessária diferenciação quando um processo epigenético ativa ou desativa os genes, ainda no útero.

Recentemente existe o conhecimento de que este mesmo processo pode explicar também, diferentes susceptibilidades a doenças que a genética tradicional não pode. Dentre os diversos mecanismos propostos, o mais estudado é o da metilação do DNA, uma simples ligação de um carbono ligado a três átomos de hidrogênio a uma região específica do gene.

Um dos experimentos feitos para comprovar esse mecanismo foi o seguinte. Camundongos regulados pelo gene AGOUTI (que não apenas confere uma pelagem amarela a eles, como também os torna mais propensos a doenças como obesidade, diabetes e câncer) foram escolhidos.

Com isso, o experimento foi feito separando dois grupos de fêmeas idênticas e grávidas que foram alimentadas com rações distintas: uma normal e outra suplementada por “doadores” de grupos metil, como ácido fólico e vitamina B12.

No fim do estudo, verificaram que estes grupos metil se ligavam a marcadores epigenéticos sobre o gene AGOUTI, no útero, silenciando sua expressão, ou seja, desligando o gene. Assim, sem causar alguma alteração no DNA, por meio apenas da suplementação de vitaminas do complexo B, os pesquisadores conseguiram que fêmeas AGOUTI produzissem gerações de filhotes de pelagem castanha, sem predisposição a obesidade, diabetes e câncer.

Assim como nos ratinhos, os eventos que ocorrem em nossa vida podem, portanto, evitar a doença ou aumentar as chances de manifestá-la. Como epigenética é uma área pouco desbravada e muito nova, muitas coisas ainda não estão claras. Mas pesquisas já mostram alguns eventos que podem afetar a manifestação da diabetes mellitus tipo 2. A seguir, trechos de um estudo realizado na Universidade do Porto (Portugal):

"Os estudos revelam que o fenótipo "baixo peso ao nascer", seguido de catch-up growth pós-natal, é aquele que está associado ao maior risco de desenvolvimento de diabetes na idade adulta. Este fenótipo determina uma maior resistência à insulina e menor capacidade de secreção compensatória pelo pâncreas, conduzindo ao desenvolvimento de diabetes.

Muitos têm sido os esforços na tentativa de encontrar os mecanismos etiopatogénicos envolvidos, que possam constituir possíveis alvos de atuação no nível de prevenção primária. Atualmente, a atenção está voltada para os mecanismos celulares (stress oxidativo e disfunção mitocondrial) e moleculares (alterações epigenéticas).

A eficácia da suplementação de antioxidantes durante a gestação para a prevenção de stress oxidativo é alvo de investigação, sendo necessários estudos futuros de follow-up da respectiva descendência para testar esta hipótese. Num futuro próximo, é possível que as modificações epigenéticas possam ser utilizadas como biomarcadores de doença e como alvos terapêuticos."

A evidência apresentada permite concluir que investir no planeamento familiar e na vigilância da gestação promove não só um bom desenvolvimento fetal e o nascimento de um bebê saudável, como também uma futura vida adulta saudável. Será que estamos no caminho pra cura da diabetes, ou pelo menos, uma drástica redução de pessoas afetadas por ela?

Quem quiser conferir o estudo, ai está o link: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/53395/2/Tese%20Mestrado%20%20Rosa%20Maria%20Arajo%20Martins.pdf

E mais um link, com um vídeo bem esclarecedor sobre Epigenética:

http://www.youtube.com/watch?v=V1lwe0JUMwk

Espero que tenham gostado das novas informações! Até a próxima! :)

Referências:

http://nutricionpersonalizada.wordpress.com/2011/04/26/epigenetica_diabetes_mellitus_tipo_2

sábado, 4 de junho de 2011

Complicações: a Retinopatia Diabética

Olá pessoal!

Vocês já ouviram que os diabéticos tem 25 vezes mais chances de desenvolver cegueira do que os não diabéticos? Essa postagem trata justamente da causa dessa estatística que é a retinopatia diabética.
A retinopatia diabética é a principal complicação ocular causada pela Diabetes Mellitus, ela é causada pela modificação dos vasos sanguíneos presentes na retina ocular. Entre as modificações encontram-se vazamentos de fluido e crescimento de mais vasos sanguíneos, porém, muito mais frágeis ao longo da região acometida pela doença.

A retinopatia diabética pode ser classificada como:


·Não proliferativa leve: microaneurismas ocorrem nos vasos localizados na retina.

·Não proliferativa moderada: alguns vasos sanguíneos localizados na retina são bloqueados fazendo com que algumas partes dessa região não sejam oxigenas corretamente.

·Não proliferativa severa: mais vasos sanguíneos são bloqueados e as áreas da retina mandam sinais para o corpo iniciar o processo de proliferação de vasos sanguíneos(neovascularização) na retina.

·Proliferativa: os vasos que supostamente irão suprir a necessidade de oxigenação do local começam a crescer e sua fragilidade faz com que sangramentos frequentes contribuam para a perda de visão.

O sangramento desses vasos advém de uma microangiopatia que contribui para o enfraquecimento dos vasos sanguíneos de pequeno calibre, principalmente na retina e rins. A oclusão microvascular ocorre em função do espessamento da membrana basal dos capilares da retina. Isso pode ser explicado pelo post de que o Yuri acabou de fazer: a hiperglicemia prolongada pela diabetes acaba promovendo reações reversíveis entre açúcares e aminoácidos(amino redutor) que dão origem a produtos intermediários da glicosilação; se as altas taxas de glicemia persistirem (perceba que, se as taxas de glicose voltarem ao normal, a reação ocorre no sentido inverso), ocorre a formação de produtos finais da glicosilação (PFGs ou AGEs) por um mecanismo enzimático irreversível. Os AGEs, por sua vez,ligam-se aos receptores presentes no endotélio fazendo com que a permeabilidade dos vasos aumente, ligam-se também à proteínas livres e hemácias causando aumento da matriz extracelular, inativação do oxido nítrico (capazes de causar a vasodilatação diminuindo a pressão dentro dos vasos) e disfunção das hemácias (hemoglobina glicosilada), desregulando o transporte de oxigênio e enfraquecendo os capilares. Vale lembrar também que a hiperglicemia aumenta o volume vascular e isso pode facilitar a hemorragia vítrea.

Outra via metabólica também contribui para o desenvolvimento da patogênese, a via dos polióis. Com o excesso de glicose no tecido retiniano, a glicose é convertida em sorbitol através da aldose redutase. O acúmulo dessa substância dentro das células altera o fluxo osmótico, podendo causar a morte das mesmas e também causa a depleção da mioinositol. Essa substância é importante para a regulação da enzima sódio-potássio ATPase, de forma que o acúmulo de sorbitol acaba prejudicando os pericitos (uma célula do tipo mesenquimal, associada com as parede de pequenos vasos sanguíneos), fazendo com que eles deixem de exercer sua função contrátil e mantenedora da estrutura dos vasos.

Os fatores de risco da retinopatia diabética estendem-se a todas as pessoas acometidas por diabetes, seja ela do tipo 1 ou 2. A complicação esta relacionada diretamente com o tempo de desenvolvimento da doença que a pessoa possui. Em 2 anos de diabetes diagnosticada, a probabilidade de um paciente ser portador de retinopatia diabética é de 2% para diabetes 1 e de 20% para diabetes do tipo 2. Tal discrepância ocorre devido ao fato dos sintomas no diabetes 2 serem mais amenos e, portanto, quando diagnosticada, as chances de do paciente ter iniciado e desenvolvido seu quadro de diabetes sem saber por um período de tempo longo é maior. Outros fatores de risco são:

·Genética: hà 4% de chances a mais quando algum parente próximo apresenta a doença.

·Controle metabólico: como foi visto acima, o controle da glicemia pode fazer com que a glicosilação enzimática seja revertida se esta estiver em processos iniciais e outros fatores agravantes da patogênese podem ser evitados.

·Tabagismo: provoca diminuição do fluxo sanguíneo (levando a neovascularização) e perda do controle da microvascularização.

·Idade: a retinopatia diabética tem rara ocorrência antes da puberdade, e os casos aumentam em frequência e gravidade após os treze anos. Isso ocorre, provavelmente, devido as alterações hormonais dos indivíduos.

A prevenção do avanço do quadro de RD é feita principalmente pelo controle metabólico a fim de evitar a hiperglicemia prolongada. Além disso, também há recomendações para evitar o tabagismo e praticar exercícios físicos. Já o tratamento da doença possui diversas vertentes de estudos. Existem, por exemplo, substâncias capazes de reduzir a angiogênese ocular e o crescimento de células endoteliais: hormônios como somatostatinas (hormônio produzido pelas células delta do pâncreas), que inibem o eixo IGF1, e medicamentos de via oral que inibem a atividade da proteína quinase C, a qual tem entre seus efeitos a iniciação da angiogênese e também da proliferação de células na camada basal do endotélio.



Esses tratamentos acima, entretanto, não se comparam à eficiência demonstrada pelo método da fotocoagulação, que reduz a perda de visão por retinopatia diabética. O vídeo abaixo sintetiza o que acontece nesse método cirúrgico. Além de impedir que os vasos cresçam novamente, o método faz com que as possíveis manchas causadas pelos microaneurismas sumam. Também leva a uma proliferação do epitélio pigmentar com subsequente renovação, acarretando no desaparecimento do edema de retina. É preciso levar em consideração que se os vasos estiverem muito próximos à macula (ponto da retina aonde enxergamos com maior precisão), a cirurgia pode causar danos permanente à visão do paciente.

Se o tratamento a laser não apresentar sucesso e a hemorragia vítrea for persistente, ou se houver descolamento da retina, é necessário que seja realizado um outro processo cirúrgico denominado vitrectomia.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

AGE´S - Produtos finais da glicação avançada

Olá pessoal! Enquanto vocês estão na farra nessa sexta à noite, eu estou aqui postando no blog de biobio! Hoje, vou falar sobre os AGE´s(advanced glycation end-procuts, em inglês), um tema pouco conhecido, mas muito importante para a compreensão da clínica da diabetes.

Os AGE´s são produtos formados por interações amino carbonila, de natureza não-enzimática, entre açúcares redutores ou lipídeos oxidados e proteínas, aminofosfolipídeos e ácidos nucléicos.A formação de AGE´s ocorre naturalmente e age sobre moléculas de meia-vida longa, como o colágeno. Um dos melhores indicadores de que a formação de AGE´s pode estar acontecendo em níveis anormais é a hemoglobina glicada, discutida no meu último post. Esses produtos estão relacionados a diversas complicações que ocorrem na diabetes.

Os AGE´s são formados pela ligação de um açúcar redutor ao grupo amino-terminal de um aminácido, como é o caso da hemoglobina glicada. A hemoglobina glicada, uma estrutura instável, é classificada como produto de Amadori. Uma característica desses produtos é a presença de grupos carbonila reativos, que se condensam com grupos aminas primários disponíveis, gerando os produtos da glicação avançada (AGE´s). Existe também uma via alternativa de formação dos AGE´s, que inclui a oxidação de açúcares e lipídeos, gerando compostos dicarbonílicos intermediários altamente reativos. Esses compostos dicarbonílicos reagem com outras substâncias, principalmente, aminoácidos, gerando a formação de AGE´s. Por exemplo, a oxidação da glicose promove a produção de metilglioxal e glioxal, que reagem com aminoácidos para formar AGE´s. (Veja o vídeo abaixo)


Além da formação de AGE´s endógenos, essas substâncias podem ser absorvidas do meio externo, principalmente através do fumo e da dieta. O fumo promove a volatização de substâncias relativas aos AGE´s e sua inalação pelos pulmões. O preparo de alimentos com baixa umidade e altas temperaturas, ou seja, fritos, cozidos ou grelhados, potencializa a formação de AGE´s.

O mecanismo de ação das AGE´s é bastante complexo. Em uma visão geral, pode-se dizer que eles precisam ligar-se a receptores, denominados RAGE´s, que são imunoglobulinas. Os genes promotores desses receptores estão associados ao fator nuclear kB( NF-kB). Esse fator nuclear está presente no citoplasma ligado a um inibidor, o IkB. Para ser liberado e translocado para o núcleo, é necessário que ocorra a fosforilação e degradação do seu inibidor. O sinal para que isso ocorra é a associação dos AGE´s com os RAGE´s. No núcleo, é realizada a transcrição do NF-kB, o que promove um aumento da expressão de seus genes alvo. Esses genes alvo codificam endotelina-1(substância vasoconstritora), VEGF( fator de crescimento do endotélio vascular) e citocinas pró-inflamatórias. O RAGE é altamente ativo em células endoteliais, macrófagos, monócitos e células musculares lisas, sob condições de aumento de AGE.

Os AGE´s estão diretamente relacionados às complicações diabéticas. As complicações vasculares devem-se a produção de endotelina-1, uma substância vasoconstritora e da inibição do óxido nítrico e da prostaciclina, substâncias vasodilatadoras. Além disso, eles promovem a oxidação das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), que se acumulam na parede dos vasos, atraindo macrófagos, que obstruem os vasos. Esses fatores relacionam-se principalmente à hipertensão e a arterosclerose.

Os AGE´s, associados ao seu receptor, também promovem a síntese do fator de crescimento do endotélio vascular, que estimula a neovascularização e a angiogênse, fatores relacionados a retinopatia diabética. A nefropatia diabética, por sua vez, ocorre devido ao estímulo a produção do fator de crescimento beta (TNF beta), responsável pelo aumento da síntese de colágeno, que contribui, em parte, para o espessamento da membrana basal. Esse espessamento da membrana basal promove uma compressão nos capilares e diminui a área em que ocorre a filtração do sangue, prejudicando essa função exercida pelo rim. O espessamento da membrana basal deve-se também às células mesangiais, que estão aderidas aos capilares dos glomérulos renais e possuem receptores para os AGE´s. A associação dos AGE´s com esses receptores promove um aumento na síntese de colágeno tipo IV e de proteínas da matriz. (Veja o vídeo abaixo)


Os diabéticos apresentam dificuldade de cicatrização, uma vez esta depende da deposição de uma parte da matriz extracelular para o fechamento da ferida. O complexo AGE-RAGE estimula a síntese de fator de crescimento alfa (TNF alfa) e metaloproteinases, que degradam a matriz e limitam o fechamento da ferida. A neuropatia diabética, outra complicação da diabetes, deve-se principalmente a desmielinização dos nervos. A alta taxa de glicose no sangue favorece a formação da mielina glicada, que é mais suscetível a ação de macrófagos, que podem ser estimulados a secretar proteases, o que provoca a desmielinização do nervo. A desmielinização do nervo é também conseqüência da associação da mielina aos AGE´s, que podem se ligar a outras proteínas, como alguns tipos de imunoglobulinas, gerando uma reação autoimone, que provoca a desmielinização do nervo. Além disso, a neuropatia diabética pode estar associada ao espessamento dos vasos sanguíneos provocado pelos AGE´s.

Percebe-se, então, a abrangência de ações dos AGE´s no nosso organismo e os riscos que eles trazem para os diabéticos. Por isso, estão sendo procurados tratamentos para esses produtos, que consistem em impedir a formação dos produtos de Amari, detoxificação de intermediários dicarbonílicos, diminuição de absorção dos AGE´s, entre outros métodos. É uma área extremamente promissora para tentar encontrar melhores soluções para as complicações causadas pela diabetes.

Referências Bibliográficas:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302008000600005
http://www.scielo.br/pdf/rbp/v22n1/v22n1a08.pdf
http://www.phoenixpeptide.com/catalog/pnxfoget.php?id=pnxnews_000000366&title=Compound&sum=Function